ACALANTO - Elizabeth Bishop


Borboleta.
Adulto e criança
afundam em seu descanso.
No mar o navio afunda, desaparece,
chumbo em seu regaço.
Borboleta.
Deixa as nações brigarem
deixa as nações caírem.
A grade sombreada do berço é uma gaiola
sobre a parede.
Borboleta.
Durma sem parar,
que a guerra vai acabar.
Solta a inofensiva boneca tua
e agarra a lua.
Borboleta.
Se eles disserem
que não tens juízo
não te alteres, é um julgamento
bem impreciso.
Borboleta.
Adulto e criança
afundam em seu descanso.
No mar o navio afunda, desaparece,
chumbo em seu regaço.


ELIZABETH BATHORY- o terrível sadismo da condessa sangrenta

Símbolo da vaidade extrema e dos excessos que ela ocasiona, a condessa sanguinária como ficou conhecida Elizabeth Bathory é tida como a mulher mais cruel do milênio.


Nascida em território húngaro no dia 07 de agosto de 1560, Elizabeth era fruto de uma das famílias mais influentes e ricas da Hungria.
O período de sua infância foi marcado historicamente pela conquista turca de parte do território húngaro, e devido à este fator foi obrigada à presenciar inúmeras atrocidades, inclusive a morte e violação de suas irmãs durante uma invasão de rebeldes ao castelo onde vivia. Talvez desencadeado por isto, Elizabeth apresentava um comportamento incontrolável, acompanhado por ataques epiléticos e ira intensa.
Elizabeth era muito bem instruída, falava fluentemente húngaro, latim e alemão e era conhecida por sua inteligência.


Extremamente bela, com apenas 11 anos de idade Elizabeth ficou noiva do jovem conde Ferenc Nadasdy, cinco anos mais velho, e passou a viver  no castelo dos Nádasdy, em Sárvár.
Ferenc era oficial do exército e passava longos períodos em campanha. Quando contabilizava apenas 14 anos, Elizabeth ficou grávida de um camponês e teve que se manter escondida até a chegada do bebê. Seu casamento, se realizou em 1575 e se tratou de um evento muito importante na época.
Segundo consta o marido de Elizabeth, que era conhecido no exército como "cavaleiro negro" era um dos mais cruéis comandantes do exército húngaro, sendo um dos integrantes do quinteto profano (heróis de guerra que aterrorizaram os turcos), nos períodos em que não se encontrava à serviço do exército, ele ensinava táticas de tortura para Elizabeth, que por sua vez as utilizavam afim de manter a ordem entre a criadagem.


Como Elizabeth ficava a maior parte do tempo sozinha em casa, cabia à ela o disciplinamento dos empregados. Naquela época, os castigos e crueldades com os criados era comum, mas Elizabeth ultrapassava os limites aceitos e promovia sessões de horror gratuitas.
Certa vez segundo relatos, em um ataque de fúria abriu a boca de uma de suas criadas até que seus lábios se separassem. Dentre os cruéis castigos que impunha destaca-se o constante hábito de espetar agulhas sob as unhas e lábios das criadas.
No inverno Elizabeth executava suas vítimas despindo-as na neve e derramando água gelada em seus corpos, até que congelassem e morressem por hipotermia. A predileção sádica de Elizabeth por criados do sexo feminino e jovens, deu origem ao boato que ela se banhava com sangue das jovens como um ritual de beleza.


Por volta de 1585 Elizabeth deu à luz a primeira filha do casal Anna, anos mais tarde nasceram Ursula, Katherina e Paul. De acordo com cartas datadas do período, Elizabeth era ótima mãe e admirável esposa, sendo uma das nobres mais belas da época, não despertava suspeitas sob seu comportamento na sociedade.
Seu marido morreu em 1604 e Elizabeth mudou-se imediatamente para Viena, a partir de então seu comportamento tornou-se ainda mais cruel e pavorosos.
Em Viena, Elizabeth conheceu uma mulher da qual pouco se sabe e supostamente seria sua amante, Anna Darvulia. Esta misteriosa mulher não só tornou sua cúmplice, como também sua mentora e lhe ensinou novas e sofisticadas técnicas de tortura.
No porão de sua casa foram construídas vários instrumentos de tortura e os crimes se tornaram frequentes, sendo que Anna era a responsável pela escolha das vítimas.


Em meados de 1609 Anna adoeceu e veio a falecer, Elizabeth então contando com ajuda de outros cúmplices começou a despertar suspeitas. Com dificuldades de conseguir pessoas que dispusessem à trabalhar para ela, já que boatos sobre suas atividades começavam aparecer, a condessa voltou sua atenção para nobreza e no mesmo ano, encorajada por sua nova companheira Erzsi Majorova (viúva de um camponês) ela assassinou uma jovem nobre, alegando suicídio.
As investigações sobre os crimes cometidos por Elizabeth iniciaram em 1610, quando durante uma noite a condessa enfurecida com a ajuda de seus criados, começaram à arremessar camponeses do alto de seu castelo em direção à uma matilha de lobos famintos. Uma tropa foi enviada pelo rei e segundo relatos, encontraram inúmeros corpos mutilados na residência.


Elizabeth foi presa no dia 26 de dezembro de 1610. O julgamento teve início alguns dias depois, conduzido pelo Conde Thurzo. Uma semana após a primeira sessão em 7 de janeiro de 1611, foi apresentada como prova uma agenda encontrada nos aposentos da condessa, a qual continha os nomes de 650 vítimas, todos registrados com a sua própria letra.
Seus cúmplices de assassinato foram presos e condenados a morte. Tiveram os dedos arrancados em praça pública e depois lançados numa fogueira. Elizabeth foi condenada à prisão perpétua em solitária no seu castelo, onde foram construídas barreiras nas portas e janelas de modo que apenas um orifício usado para entrega de alimentos fosse possível.
A condessa ficou presa até sua morte em 21 de agosto de 1614. Foi sepultada nas terras de Bathory, em Ecsed.
No julgamento de Elizabeth, não foram apresentadas provas sobre as torturas e mortes, baseando-se toda a acusação no relato de testemunhas. Após sua morte, os registros de seus julgamentos foram lacrados, porque a revelação de suas atividades constituiriam um escândalo para a comunidade húngara reinante. O rei húngaro Matias II proibiu que se mencionasse seu nome nos círculos sociais.

simbolo presente no túmulo de Elizabeth:


"Tu, Elizabeth, és como um animal estás nos últimos meses da tua vida. Não mereces respirar o ar nesta terra, nem ver a luz do Senhor. Irás desaparecer deste mundo e nunca mais irás aparecer. As sombras irão encobrir-te e terás tempo para te arrependeres da tua brutal vida. Condeno-te, Senhora de Csejthe, a seres imprisionada perpetuamente no teu próprio castelo."

palavras proferidas na sentença de Elizaberh

FIDEL E RAÚL: MEUS IRMÃOS



Título: Fidel e Raúl, Meus Irmãos
Subtítulo: A História Secreta
Autor: Juanita Castro
Editora: Planeta
Ano: 2011
Idioma: Português

Juanita Castro Ruz sempre foi coadjuvante e ofuscada pelo emblemático percurso na história de seu país traçado por seus irmãos Fidel e Raul Castro, o conhecimento geral sobre ela  se restringia à sua contrariedade às políticas adotadas por Fidel (fato que ocasionou seu exílio em 1965). Porém Juanita teve sua figura reacesa no cenário mundial com a notícia de lançamento de um polêmico livro autobiográfico, que prometia trazer histórias do âmago da família Castro e de revelar fatos políticos ocultos sobre o modo operante de seus irmãos e desafetos.


O livro em questão, rotulado pela impressa cubana como "um folhetim de mau gosto e imoral", é fruto de uma parceria entre Juanita e a repórter mexicana María Antonieta Collins e disserta sobre as lembranças de Juanita de sua vivência familiar, desde a infância em uma fazenda até o conturbado período de desentendimentos com seus irmãos e o seu fatídico exílio voluntário.


Dentre memórias e fatos bizarros como a rejeição de Juanita à figura de Che Guevara, é revelado uma grandiosa rede de conspirações e segredos que envolvem a família Castro, como seu envolvimento com a CIA (mediado pela embaixatriz do Brasil em Cuba) e a tirania de Fidel que movimentado por seu ego, sentia-se no direito inquestionável de opinar sobre qualquer assunto que lhe implicava ou não.


Focando propositalmente na figura de Fidel, Juanita por vezes deixa explícito sua intenção de desconstruir o mito de herói formulado sob sua imagem, nos apresentando um indivíduo autoritário, promiscuo, impulsivo, vingativo e extremamente egoísta.


Em uma das passagens do livro, Juanita afirma que Fidel foi vítima de várias tentativas de assassinato por parte da CIA, uma vez que sua figura com enorme apelo popular e sua postura firme incomodavam e eram tidos como um empecilho para os interesses defendidos por eles.


O relato de Juanita Castro abrange muito mais que escândalos familiares e políticos, ele possibilita o maior entendimento dos bastidores de um momentos mais importantes da história mundial (revolução cubana), tal como as táticas políticas e o reconhecimento mais profundo de um dos líderes mais influentes do último século.


MEDO DE NÓS PRÓPRIOS - Oscar Wilde


Acredito que se um homem vivesse a sua vida plenamente, desse forma a cada sentimento, expessão a cada pensamento, realidade a cada sonho, acredito que o mundo beneficiaria de um novo impulso de energia tão intenso que esqueceríamos todas as doenças da época medieval e regressaríamos ao ideal helénico, possivelmente até a algo mais depurado e mais rico do que o ideal helénico. Mas o mais corajoso homem entre nós tem medo de si próprio. A mutilação do selvagem sobrevive tragicamente na autonegação que nos corrompe a vida. Somos castigados pelas nossas renúncias. Cada impulso que tentamos estrangular germina no cérebro e envenena-nos. O corpo peca uma vez, e acaba com o pecado, porque a acção é um modo de expurgação. Nada mais permanece do que a lembrança de um prazer, ou o luxo de um remorso. A única maneira de nos livrarmos de uma tentação é cedermos-lhe. Se lhe resistirmos, a nossa alma adoece com o anseio das coisas que se proibiu, com o desejo daquilo que as suas monstruosas leis tornaram monstruoso e ilegal. Já se disse que os grandes acontecimentos do mundo ocorrem no cérebro. É também no cérebro, e apenas neste, que ocorrem os grandes pecados do mundo. 


OS 10 MELHORES FILMES QUE RETRATAM O CONTINENTE AFRICANO

1- HOTEL RUANDA - 2004 / Terry George

O filme ambientado em Kigali demonstra os horrores da Guerra civil da Ruanda, conflito ocorrido em 1994 ocasionado pela rivalidade entre as etnias hutus e tutsi e que foi responsável por uma das maiores chacinas da segunda metade do século XX.
O longa disserta sobre a história do "hotel de refugiados", como ficou conhecido o Hotel des Mile Collines sob a gerência de Paul Rusesabagina, um hutu que durante o conflito civil protegeu e salvou a vida de cerca de 1268 pessoas durante o genocídio de Ruanda.


2- O ÚLTIMO REI DA ESCÓCIA - 2006 / Kevin Macdonald

O filme baseado no livro homônimo de Giles Foden, que rendeu o Ocar de melhor ator para Forest Whitaker, relata a história de um médico escocês que trabalha no principal hospital de uma pequena cidade da Uganda e ao socorrer o presidente do país em visita a cidade, ganha a sua confiança e passa exercer um cargo importante no governo, mas se vê obrigado a ir contra ele ao descobrir suas atitudes questionáveis. 
A obra apesar de ser narrada por um personagem ficcional foi baseada em fatos reais e teve a figura do ditador inspirada pelo militar Idi Amin Dada que ditou a Uganda entre 1971-79, após um golpe de Estado.


3- DIAMANTE DE SANGUE - 2006 / Edward Zwick

Tendo como cenário principal o conflito civil que ocorreu na Serra Leoa na década de 1990, o filme que traz em seu elenco Leonardo DiCaprio e obteve cinco indicações ao Oscar, disserta sobre a problemática dos diamantes contrabandeados (diamantes de sangue) que financiam as guerras que assolam o continente africano e inclui em seu doloroso contexto as crianças alienadas pelos rebeldes com intuito de serem usadas no chamado exército infantil.


4- INVICTUS - 2009 / Clint Eastwood

O filme ambientado na África do sul pós- Apartheid, que tem em seu título uma alusão ao poema do inglês William Ernest Henley, rendeu à Morgan Freeman o Oscar de melhor ator e à Matt Damon à indicação de melhor ator coadjuvante.
A trama disserta sobre os esforços do recém eleito presidente Nelson Mandela para extinguir a segregação e/ou os preconceitos ainda existentes. Para isso ele decide incentivar equipe da seleção nacional de Rúgbi, comandada por Francois Pienaar - um branco - à vencer a Copa do Mundo do gênero esportivo, que será realizado ineditamente no país.
O filme demonstra com maestria o cenário do pós Apartheid sul africano e as dificuldades para superar isto.


5- REPÓRTERES DE GUERRA - 2011 / Steven Silver

Baseado no livro "The Bang-Bang Club: Snapshots from a Hidden War", o filme retrata a história de duas fotografias ganhadoras do prêmio Pulitzer, tendo como cenário os sangrentos conflitos envolvendo as primeiras eleições livres depois do fim do regime de Apartheid que vigorava na África do Sul.
O filme narra as dificuldades e perigos do chamado jornalismo de guerra, mediante a miséria e problemas do continente africano.


6- O JARDINEIRO FIEL - 2005 / Fernando Meirelles

A trama dirigida pelo premiado diretor brasileiro recebeu 3 indicações ao Globo de ouro e 4 indicações ao Oscar, sendo Rachel Weisz vencedora em ambos na categoria de melhor atriz coadjuvante.
A história apresentada em forma de um romance dramático, disserta sobre a gigantesca rede de corrupção da indústria farmacêutica internacional.
Baseado em um romance de John le Carré, o longa mostra a realidade de miséria e exclusão da população do Quênia, que na trama são expostos à testes involuntários e inconscientes por parte de uma indústria farmacêutica. O filme é uma crítica ferrenha à omissão e as armas do capitalismo.


7-  REDENÇÃO - 2011 / Marc Foster

Estrelado por Gerard Butler, o filme narra a verídica história de um pastor que abdica do conforto de sua vida nos EUA para se dedicar as crianças órfãs do Sudão.
O filme relata as atrocidades cometidas pelo exército rebelde durante a guerra civil do Sudão, e traz mais uma vez a realidade vivida pelas crianças convocadas para formar uma milícia infantil e as dificuldades de manutenção de ONG's.


8- A MASSAI BRANCA - 2005 / Hermine Huntgeburth

Baseados em fatos reais e inspirado no best-seller homônimo, o filme disserta sobre o choque cultural e a história de amor entre uma suiça e um guerreiro de uma tribo massai.
O longa demonstra a cultura e tradições da tribo africana massai remanescente do Quênia e seus contrastes com a sociedade moderna, exaltando seus esforços para manutenção e preservação desses costumes.


9- A SOMBRA E A ESCURIDÃO - 1996 / Stephen Hopkins

Ambientado em 1898 (auge da corrida colonialista) quando a África era disputada por franceses, alemães e britânicos; o filme indicado à 6 Oscars incluindo o de melhor filme, narra sobre a história verídica que ocorreu durante a construção de uma ponte sob o rio Tsavo, quando a equipe de operários foram atacados por dois leões a quem os aldeões acreditavam se tratar de espíritos.
O filme demonstra a questão da colonização, dos esteriótipos partilhados na época e as crendices africanas.



10- AMOR SEM FRONTEIRAS - 2003 / Martin Campbell

O filme protagonizado por Angelina Jolie, demonstra de maneira explícita os contrastes entre os países ricos e os subdesenvolvidos. Em uma trama envolvente, o longa narra sobre a difícil tarefa dos voluntários e das organizações não governamentais para se manterem e a vida de sofrimento a que os refugiados de guerra são submetidos.
Demonstrando a triste realidade e problemas enfrentados por países africanos em divergência com ao comodismo e a inércia dos países de "primeiro mundo" frente à estes assuntos.


AS FLORES DE UM DESERTO

Considerado o mais árido e mais alto deserto do mundo, o deserto do Atacama é localizado na região norte do Chile e se estende até a fronteira com o Peru.


A umidade no deserto se aproxima do zero, sendo que as chuvas são raras devido à sua altitude.
Porém no fim do ano o evento climático El Niño favorece a ocorrência de chuvas na região, com um volume equivalente a mais de 15mm.
Durante esse período, ocorre o que os chilenos chamam de Deserto florido, quando as sementes e bulbos adormecidos e depositadas em terreno rochoso germinam, acompanhado por uma proliferação de insetos e lagartos.
O volume das chuvas é importante, mas não é tudo. É preciso ainda que aconteçam em intervalos regulares, nem muito fortes nem muito esparsas, e que as geadas não venham a interromper a germinação durante o inverno.
Se essas condições forem reunidas, o deserto florido pode durar de setembro a dezembro.



Existem no deserto cerca de 200 espécies endêmicas que não existem em nenhum outro lugar do mundo, sendo que dessas, 14 estão ameaçadas de extinção.
O parque Llanos de Challe, a 400 km de Santiago foi criado com o intuito além de vistoriar o deserto, de proteger as flores e preservar o fenômeno. O parque inclusive, promove anualmente um evento denominado Deserto florescer, que inclui dentre suas programações concertos musicais e uma seção de apresentação de produtos típicos.




A beleza e exuberância concede à este evento intrigante uma das mais fascinantes paisagens naturais, sendo responsável por grande atração de turistas para região.




ALMODOVAR- o brilhante sonhador

Polêmico, cult, soberbo e inovador... esse é Pedro Almodóvar Caballero, o enigmático cineasta espanhol que surpreende a cada nova obra e formidavelmente nos apresenta, insere, instiga e nos convida à analisar os mais diversos temas.


Almodóvar nasceu no dia 24 de setembro de 1949 na cidade de Calzada de Calatrava, na província de La Mancha na Espanha. No ano de 1968 no auge da ditadura do general Franco, ele com então 19 anos partiu para capital espanhola, onde trabalhou como funcionário de uma agência telefônica, cartunista, cantor e ator.
Sem dinheiro para custear uma faculdade e apaixonado por cinema, Almodóvar comprou sua primeira câmera 8mm em 1973 quando iniciou suas práticas cinematográficas e a produção de curtas metragens.
A sua primeira obra de destaque fora da Espanha foi Pepi, Luci, Bom e outras garotas de montão (1980) uma obra feminista e provocante que conquistou a opinião crítica e colocou Almodóvar em evidência.
Em seguir foram lançados Labirinto de paixões (1982), Maus Hábitos (1983), O que eu fiz para merecer isso (1984), Trailer para amantes do proibido - não lançado no Brasil (1985), Matador (1986) e Lei do desejo (1987). Estas obras compreendem aquela que os analistas denominam de primeira fase do cineasta, que coincide com a época da La Movida madrilenha (movimento contra-cultural da Espanha pós-franquista).


A segunda fase de produção de Almodóvar, consiste no período de consagração internacional do cineasta e que iniciou em 1988.
Em 1988 Almodóvar lançou  a comédia dramática Mulheres a beira de um ataque de nervos, seu primeiro grande sucesso internacional.
Em seguida o cineasta lançou ¡Átame! (1990), um suspense romântico que rompeu com a tática almodovariana de utilizar vários contextos em um enredo e fixou somente no cenário proposto. A obra foi seguida por De salto alto (1991), Kika (1993) e A flor do meu segredo (1995).


Em 1997 iniciou a terceira fase da carreira de Almodóvar, período em que compreende as obras-primas do cineasta, onde ele alcançou o êxtase produtivo.
Esse período inicia com Carne trêmula (1997) e é seguido por Tudo sobre minha mãe (1999), Fale com ela (2002), Má educação (2004), Volver (2006), Abraços Partidos e A vereadora antropófaga (2009) e A pele que eu habito (2011).
As obras Tudo sobre minha mãe e Fale com ela, consideradas as obras-primas de Almodóvar foram responsáveis pelas mais importantes premiações recebidas por ele, sendo que Tudo sobre minha mãe foi vencedor da categoria melhor filme estrangeiro nas premiações do Globo de Ouro e Oscar de 1999 e Fale com ela recebeu o Oscar de melhor roteiro original e o Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro de 2002.



A MENTE DE UM GÊNIO  -  um mergulho no universo almodovariano 




Almodóvar é um cineasta que basicamente cria um cinema de cenários e diálogos. O feminismo sempre se mostrou nas obras de Almodóvar, sendo que de maneira evolutiva tornou-se característico de suas obras.
Suas obras trazem temáticas diversas envoltas em segundo plano seja pela ambiguidade sexual de seus personagens, pelo jogo de aparências entre os gêneros, relações interpessoais de extrema carga afetiva,  apropriação pela mulher de atitudes masculinas e vice-versa ou pela questão do desejo (muitas vezes transcendente e exacerbado).
Os enredos de suas obras são dotados de polissemia e sempre trazem em suas narrativas referências à temas polêmicos como pedofilia, estupro, incesto, traições e homicídios.
Influenciado pelo estilo de Buñel, de quem é fã, Almodóvar recria um universo colorido e multifacetado.
Esteticamente suas obras são caracterizadas pela combinação do universo de personagens e situações exacerbadas com ambientes kitsch, ao som de antigos boleros.
As cores fortes, tanto nos elementos dos cenários quanto nos figurinos, utilizando principalmente o vermelho – que, em consonância com a cultura espanhola, remete a paixão, sangue, fogo – tornam-se estratégias plásticas que ajudam a compor a estética cômica/melodramática da maioria de seus filmes (são as chamadas cores de Almodóvar).
A virtual incongruência estética de Almodóvar paradoxalmente é a chave de sua genialidade. Cenários impregnados de cores vibrantes (o vermelho é sua cor fetiche), figurinos extravagantes, personagens caricatos e trilha sonora deliciosamente brega traduzem a grife almodovariana.



sobre as obras:

Almodóvar iniciou sua carreira durante o período franquista na Espanha, produzindo curtas metragens que são de difícil acesso atualmente, mas que revela um Almodóvar não tão preocupado com a construção da cena, como lhe é característico.
Em Salomé (1978) uma adaptação da célebre obra do inglês Oscar Wilde, nota-se uma construção cênica pobre e sem as famosas cores almodovariana. O filme trata-se de uma conjunção e fratura de épocas (inserção de elementos de períodos distintos em um contexto) e disserta sobre a história de Isaac do Antigo testamento, nele Almodóvar ainda não possuía a prática de se preocupar com a construção dramática da cena, muitas vezes tida como característica vital de sua obra .
Pepi, Luci, Bom e outras garotas de montão seu primeiro longa, consiste numa narrativa sobre três mulheres diferentes interligadas entre si de alguma maneira.
O enredo traz as aventuras praticadas pelas personagens em esboços. Pepi é uma vítima de estupro em busca de vingança, Luci uma dona de casa masoquista e Bom uma cantora de punk lésbica.
Esse filme decisivo para o cineasta, marca a introdução de Almodóvar em temas polêmicos, causando espanto pela famosa cena em que Bom urina em Luci durante um ato sexual lésbico.



Em A lei do desejo, ele demonstra a polivalência de seu cinema ao narrar a história de um diretor de teatro se envolve com um rapaz sexualmente indeciso - Antonio Bandeiras -, enquanto dirige uma peça a ser estrelada pela irmã transexual (que mudou de sexo para manter relações com seu pai), enquanto disserta sobre relações familiares, incesto, questões psicológicas e valores morais.


Em Kika Almodóvar polemiza ao retratar como a vida de Kika é transformada drasticamente após um estupro. A obra traz de maneira implícita um panorama sobre as leis penais (retomada em A pele que habito), sobre relacionamentos extraconjugais e fidelidade além de uma ferrenha crítica à intervenção midiática.


Na sua obra prima Tudo sobre minha mãe, o cineasta adentra no universo dramático narrando sobre o infortúnio de uma mãe que perde o filho e sua busca alucinante pelo pai do garoto. Mais uma vez Almodóvar encanta ao retratar temas polêmicos como Aids, religião, existencialismo e identidade sexual.


O também aclamado Fale com ela, retrata a melancólica cena de dois homens que esperam ansiosos suas amadas despertarem de um coma. Este filme cheio de nuances, reviravoltas e histórias que se entrecruzam, combina elementos de dança moderna e do cinema mudo, com uma narrativa que envolve coincidência e destino.


Em Má educação, Almodóvar retoma o tema proposto em Maus hábitos anteriormente e recebe altas críticas. Dissertando sobre a moralidade religiosa, a homossexualidade, prostituição e pedofilia ele atinge o ápice da polêmica e propõe a revisão de valores.


Em Abraços Partidos, talvez sua mais complexa obra (ou pelo menos em minha opinião) Almodóvar recorre à tática de apresentar uma estrutura fragmentada, enigmática, misturando passado e presente e filme dentro de um filme. Consiste numa homenagem ao cinema, onde ele aborda de maneira singela os desfechos e acontecimentos inesperados da vida.


Por fim A pele que eu habito lançado em 2011, retratou um cirurgião plástico obcecado pela criação da pele perfeita e por sua mulher. Trata-se basicamente de uma indagação sobre a ética e um discurso sobre amores platônicos e sobre a liquidez e busca por conhecimento.


Almodóvar é conhecido por suas predileções no que se diz respeito à escolha de atrizes e atores, dentre suas musas estão Carmem Maura, Marisa Paredes, Penélope Cruz, Rossy de Palma e Chus Lampreave e seu ator preferido é Antonio Bandeiras.

um suspiro contra hipocrisia

Assumidamente gay, Almodóvar aborda a temática de orientação sexual em muitas de suas obras como Pepi, Luci, Bom e outras garotas de montão, Labirintos de Paixões,  A lei do desejo (onde retrata a vivência entre irmãos, um gay e o outro transsexual) e Má educação.
Além disso, o cineasta tem assuntos recorrentes em suas obras como o estupro (abordado em Kika, Fale com ela, O que eu fiz para merecer isto? e Má educação), homicídio (presente em Volver, Matador, Carne trêmula, O que eu fiz para merecer isto?, Má educação, A lei do desejo e Kika), o incesto (A lei do desejo, Kika e Volver), além da crítica aos valores da Igreja (Maus hábitos e Má educação).
De uma maneira descontraída e ambivalente, Almodóvar desconstrói o grotesco explicando-o. Utilizando perversões, exuberâncias e descontroles ele demonstra e denuncia as imoralidades, os abusos e as falsidades que a sociedade alimenta sob a égide da hipocrisia e do discurso do impróprio e importuno.

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