OS DESCRENTES - Fiodor Dostoiévski



Nunca encontrei um descrente, apenas desvairados inquietos... é assim que é melhor tratá-los. São pessoas diferentes, não se percebe bem o que são: tanto os grandes como os pequenos, os ignorantes como os cultos, mesmo a gente da classe mais simples, tudo neles é desvario. Porque passam a vida a ler e a interpretar e depois, fartos da doçura livresca, continuam perplexos e não conseguem resolver nada. Há quem se disperse, de maneira que não consegue atentar em si mesmo. Há quem seja rijo como pedra, mas no seu coração vagueiam sonhos. Há também o insensível e fútil que só quer gozar e ironizar. Há quem só tire dos livros florzinhas, e mesmo elas consoantes à sua opinião, e há nele desvario e falta de perspicácia. E digo mais: há muito tédio.
O homem pequeno é necessitado, não tem pão, não tem com que sustentar os filhos, dorme na palha áspera, mas tem o coração leve e alegre; é pecador e malcriado, mas mantém na mesma o coração alegre. E o homem grande farta-se de comer e beber, senta-se num montão de ouro, mas tem sempre a mágoa no coração. Há quem domine as ciências mas não se livre do tédio. Penso eu, então, que quanto maior a inteligência, maior é o tédio. Além disso, vede: andam a ensinar a gente desde o princípio dos tempos, mas o que lhes ensinaram para que o mundo fosse a mais bela e alegre habitação, recheada de todas as felicidades? E digo também: não têm decoro, nem sequer o desejam; pereceram todos, e todos louvam o seu perecimento, sem pensarem em virar-se para a única verdade (ora, viver sem Deus é um castigo, mais nada). Resultado: amaldiçoamos o que nos ilumina e não o sabemos. Que sentido tem viver assim?
O homem que não venera não vive, um homem assim não suportará a si mesmo, nenhum homem. Se rejeitar Deus, venerará o ídolo... de madeira, de ouro, de pensamento. Estes são idólatras, não são descrentes: é assim que devem ser chamados. Mas, então, não existem descrentes? Sim, há quem seja na verdade descrente, e são esses os mais assustadores, porque trazem sempre o nome de Deus na boca. Ouvi falar dessa gente por mais de uma vez, mas nunca a encontrei. Existe, meu amigo, e acho que deve existir.

SETE DIAS COM MARILYN - vulnerabilidade e sensualismo da blond girl


título original: My week with Marilyn
direção: Simon Curtis
roteiro: Adrian Hodges e Colin Clark
elenco:  Michelle Williams, Emma Watson, Eddie Reymayne
Reino Unido
2011
99 min.
distribuidora: Imagem Filmes



No ano de 1956 Marilyn Monroe em seu auge, foi a Inglaterra para a filmagem "The Prince and the showgirl" (O príncipe encantado no Brasil), um filme precursor de seu boom artístico em Hollywood e é exatamente neste este âmbito que "Sete dias com Marilyn" nos insere.
Baseado nos livros The Prince, The showgirl and Me e My week with Marilyn do documentarista Colin Clark, o filme nos revela a impressão de um jovem sonhador sobre a sua musa inspiradora.
Colin nos é apresentado, como um rapaz com uma ingenuidade interiorana e uma pertinente ambição de ser diretor de cinema, que consegue emprego como terceiro assistente nas filmagens em que a estrela participará.



Marilyn Monroe, na época colecionava dois divórcios e passava por uma crise conjugal com seu então marido, o diretor Arthur Miller, fato este que talvez tenha propiciado sua aproximação afetiva com o jovem Colin, com quem teve um breve romance.





Em Sete dias com Marilyn temos a oportunidade de conhecer outra face dessa estrela atemporal e enigmática que representa Marilyn Monroe, além de saber um pouco mais sobre o efeito arrebatador que causava e tentar entender o universo dessa estrela ambígua.
Conhecida como símbolo sexual e sinônimo de auto-confiança, Marilyn na verdade sofria imensamente com a pressão que era submetida. Sem nenhum preparo psicológico e obrigada a viver em um ciclo vicioso de bajulações e cobranças contínuas, segundo relatos de Colin a diva caía em profunda solidão e era amparada todo tempo por uma vastidão de medicamentos e calmantes, o que não permitia o seu descontrole total.
Em alguns momentos do filme percebe-se claramente a separação lógica que a musa faz de sua personagem sexy e super confiante Marilyn Monroe e sua verdadeira identidade; a frágil e dependente Norma Jean.
Um ótimo enredo aliado com uma perfeita atuação de Michelle Williams (que por vezes ofusca os demais personagens e nos tira o fôlego) contribuem com o fantástico resultado do filme.





ROSA DE HIROSHIMA - Vinícius de Moraiss



Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada

ROCK'N ROLL - a história do gênero mais amado do mundo



O rock surgiu em meados dos anos 50, oriundo o sul dos Estados Unidos e fruto de uma formidável mistura dos ritmos blues e country music (ritmos cultivados pelos negros americanos).
Em 1952, o radialista Alan Freed batizou seu programa de Moondog's rock and party, criando assim o termo rock'n roll para designar este novo ritmo (teoricamente).
Os primeiros cantores de rock emergiram, como Chuck Berry e Bill Halley. Mas foi em junho de 1954, um jovem caminhoneiro de Memphis, deu o primeiro passo para universalizar este ritmo, quando gravou  "That's all right Mamma".
O caminhoneiro em questão, era Elvis Presley, que viria se tornar o "rei do rock". Com sua beleza, carisma e talento ele conquistou o mundo e se tornou um dos principais representantes do gênero.


O ritmo frenético e as atitudes impulsivas dos astros, cativaram os jovens na década de 60, que viviam sob a sombra da guerra fria e viam no rock um método libertário, uma via rebelde para protestar.
Nesta época o ritmo já tinha conquistado o público e na costa oeste dos Estados Unidos, surgia uma nova ramificação do gênero: o surf rock apresentada pelo grupo Beach Boys, enquanto Bob Dylan fazia com maestria a junção entre folk e rock.
No outro lado do Atlântico, se dava inicio a chamada "invasão britânica" e bandas como The Who, Rolling Stones e The Beatles surgiram com força e gás total.
Enquanto no Brasil, a jovem guarda encantava a juventude e dava início o rock brasileiro, na Inglaterra os garotos de Liverpool duelavam popularidade com os durões Stones, nos Estados Unidos surgiam um novo ideal sob o comando do emblemático Jim Morisson e seus The doors.
O psicodelismo apoderou-se do rock e os magníficos "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band" (The Beatles) e "Their Satanic Magesties Request" (Rolling Stones) sacramentou essa como uma das melhores fases da história gênero.




Munidos pelo lema "sexo, drogas e rock'n roll", os astros ditavam modas e eram acompanhados por multidões de admiradores reacionários.
Já no final da década de 60, o movimento hippie ganhou força, pregando a ideologia do "peace and love" por meio de seus representantes supremos; Jimi Hendrix e Janis Joplin, conquistaram o gosto popular, e no ano de 1969 foi realizado o maior festival de música dessa geração: o Woodstock, que reuniu durante três dias alguns dos maiores músicos da época.



A geniosa banda britânica Pink Floyd surgiu nos anos 70, mesclando com uma exatidão invejável o psicodelismo e o rock progressivo (que muito se aproximava da música erudita), e lançou um dos álbuns mais intrigantes da história: o ambíguo "The Wall".
A década de 70, foi sem dúvida a mais produtiva em relação as inovações do gênero, que assistiu também o surgimento do punk, heavy metal e hard rock.
O punk criado com o intuito de chocar o sistema vigente, teve como principal representante a banda inglesa Sex Pistols, seguidos dos inesquecíveis e carismáticos Ramones e a The Clash e tinha como especificidade a fixação por temas sociais.
O hard rock inaugurado no início da década de 70 e que tinha como característica a utilização expressiva e intensa da guitarra, inicialmente não agradou muito à crítica, contudo aflorou algumas das bandas mais importantes do rock, como Scorpions, Kiss, Alice Cooper, Rush, Deep Purple, AC/DC, Led Zeppelin, Guns n' Roses e Aerosmith (considerada a maior banda de rock da América).
O heavy metal pouco se difere do hard rock e tem como representantes maiores o Black Sabbath, Iron Maiden, Metallica, Megadeth e Anthrax.







Ainda no início dos anos 70, surgiu uma nova ramificação do rock que não agradou muito a crítica e que não atraiu muitos fãs: o chamado glam rock.
Caracterizado pela androginia e por visuais espalhafatosos, o glam rock emergiu sob a figura do camaleão David Bowle.
No Brasil, despontava o maior cantor brasileiro do gênero Raul Seixas e a rainha do rock Rita Lee emergia ao mesmo tempo que o emblemático Secos e Molhados e o enigmático Barão Vermelho de Cazuza.
Enquanto na Inglaterra surgia um fenômeno arrebatador, utilizando um novo arranjo denominando Glam metal, a banda trazia em seu nome uma homenagem (ou não) à realeza do país.... era o Queen, que liderado pelo carismático Freddie Mercury reunia multidões enlouquecidas por onde passava e determinou alguns dos hinos do rock.






Os anos 80 trouxe consigo os resquícios das inovações da década anterior, da qual surgiram outros sub-gêneros, como o pós punk, o new wave e o rock alternativo.
O pós punk foi caracterizado pela melancolia do som e das letras e o baixo sobrepõe o som e a utilização da guitarra. Deste sub gênero surgiu as inglesas The Smiths e The Cure e a irlandesa U2 (que logo abandonou esse estilo e optou pelo pop rock).
É deste estilo que surgiram os góticos e os darks.
O pós punk influenciou o surgimento de diversas bandas, que mais tarde abandonaram o estilo e optaram por outros, como é o caso no Brasil do Legião Urbana e Titãs.





Mas foi no final da década de 80 e início dos anos 90, que o rock caiu definitivamente no gosto popular, quando estourou um novo movimento: o rock alternativo, que iniciado pela banda R.E.M, trouxe consigo inúmeras ramificações, que enlouqueciam as pessoas e gerou uma legião colossal de fãs.
Enquanto na Califórnia, os rebeldes do Red Hot Chili Peppers mesclavam o som pesado e hip hop e a também californiana Green Day começava fazer barulho, em Seattle garotos que não se preocupavam com o visual começaram atrair cada vez mais fãs, liderados pelo insurgente Kurt Colbain  a banda Nirvana apresentava ao mundo o estilo grunge.
O grunge se tornou mainstream e revelou uma explosão de bandas de Seattle, como Pearl Jam e Alice in the Chains.




Ainda na década de 90, várias ramificações surgiram e influenciaram as bandas subsequentes: como o britpop (Oasis), o pós alternativo (Foo fighters), o metal alternativo (Faith no more, System of a down e Audioslave), o indie rock ( Radiohead, The Strokes, Artic Monkeys, Belle & Sebastian e a melodramática Coldplay), o new metal (Slipknot e Link Park), o black metal (Sarcófago), o groove metal (Sepultura) e o pop punk (Blink 182 ) entre outros.




UM MÉTODO PERIGOSO - ética, romance e psicanálise


título original: A dangerous method
país: Inglaterra, Canadá e Alemanha
ano: 2011
drama
direção: David Cronenberg
elenco: Keira Knightley, Michael Fassbender, Viggo Mortensen, Vicent Cassel

Dirigido pelo canadense David Cronenberg, o filme traz o conturbado envolvimento amoroso entre o jovem psicanalista Carl Jung (Michael Fassbender) e a problemática paciente Sabina Spelrein (Keira Knightley) ao mesmo tempo que demonstra a relação conflitante entre Jung e seu mestre Sigmund Freud.
Sabine é uma mulher de classe média, que tem crises constantes de histeria e é levada até Jung, um psicanalista emergente que utiliza os inovadores métodos do já conceituado Freud para tratar seus pacientes, como última tentativa de cura.
Por meio da metodologia da conversa, Jung ajuda a jovem descobrir e aceitar a origem de seu problema, ao mesmo tempo que influenciado por seu paciente e colega de profissão Otto Gross, ele inicia um perigoso romance com Sabina.
Paralelamente à história amorosa de Jung e Sabina, o filme mostra também a relação ambígua entre Freud e seu aluno Jung, em que a admiração e o repeito foi aos poucos sendo supridos pela divergência latente de opiniões e ideias.
Nutrida por uma excelente atuação de Keira Knightley e Michel Fassbender, Um método perigoso traduz de forma singela, sensata e entusiasmante um dos mais importantes momentos da história da psicologia mesclando com o encontro de dois dos maiores gênios da humanidade e trata de assuntos como o "complexo de Electra" e sadomasoquismo. 
Um filme esclarecedor e muito bem elaborado!!





SUDÃO DO SUL- liberdade sangrenta


A Conferência de Berlim realizada no final do século XIX e que partilhou a África entre as potências da época, desrespeitando as diferenças étnicas, culturais ou ainda mesmo geográficas; trouxe consequências extremamente desastrosas para o povo africano.
As guerras civis no continente africano se tornaram constantes e massacres como os ocorridos em  Ruanda e Burundi demonstram o quão equivocadas foram as decisões tomadas em Berlim.
Nutridos por ódio e indignação, as guerras étnicas surgem como uma opção de corrigir o erro ocasionado pelas potências.
E foi seguindo este contexto que o Sudão, um país do coração africano entrou em uma das mais duradouras guerras civis da história do continente, que resultou na independência e formação do Sudão do Sul, um país que já nasceu com um preocupante status: o de país mais pobre do mundo!



Entendendo o movimento de independência do Sudão do Sul

O Sudão tem diferenças em relação ao seu norte e sul gritantes, enquanto a maioria da população do norte é muçulmana e fala árabe; o sul é composto de vários grupos étnicos, de maioria cristã ou animista. Além disso, o norte é desértico enquanto o sul é repleto de selvas e pântanos.
Os conflitos entre o Sudão e a parte sul geraram duas guerras civis (a primeira entre 1955-72 e a segunda entre 1983-2005) que foram responsáveis por centenas de óbitos, neste que foi um dos mais mortíferos conflitos do fim do século XX.
Em 1983, quando o então presidente Jafar Numeri tentou impor a lei islâmica no sul do país onde a maioria é cristã (como já dito), teve início não só a segunda guerra civil do país como também o projeto de independência ganhou força.
Em 9 de janeiro de 2005 foi assinado o Tratado de Naivasha, um acordo de paz assinado entre o governo do Sudão e os rebeldes do sul.
O acordo porém não pós fim a luta pela independência, em janeiro de 2011 foi realizado um referendo estipulado pelo Acordo de Paz Global de 2005 e assinado pelo Movimento Popular de Libertação do Sudão (SPLM) mostrou que 98,83% dos cidadãos do sul eram a favor da independência. Assim seis meses depois, no dia 09 de julho de 2011, nasceu o Sudão do Sul, tendo:

* capital: Juba
* língua oficial: inglês
* moeda: libra sul-sudanesa
* população: 10,6 milhões de habitantes
* área: 644.329 km²



Um novo país e suas dificuldades em continuar existindo

No mesmo mês de sua fundação, o país tornou-se membro da Organização das Nações Unidas e da União Africana.
A realidade do país mais jovem do planeta porém, se mostra desanimador e coleciona colocações em rankings preocupantes.
Atualmente o Sudão do Sul é o país onde mais morrem grávidas e recém-nascidos; cerca de 73% da população adulta é analfabeta, sendo que a taxa de escolarização no ensino fundamental é de 6%, o PIB do país ainda é desconhecido e 85% da população não tem acesso à postos de saúde.
O país concentra 80% do petróleo sudanês, mas depende das refinarias do norte para exportar, fato que gerou  o fechamento das reservas petrolíferas no país, o que provocou uma queda de 98% da renda do país.
Além desses fatores, o país enfrenta o maior de seus problemas: a superpopulação, provocada pela grande massa de refugiados que outrora abandonaram o país devido as guerras tribais e agora retornam à seus lares.
A luta para existência é intensa e árdua, porém o fato relevante atualmente é que o Sudão do Sul é um pobre país de refugiados.





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