GUY FAWKES - de revolucionário traidor à herói do povo

Um rosto sinistramente pálido, um sorriso malicioso, bigodes finos voltados para cima e uma expressão irônica... Desde que Hollywood apresentou a estilizada máscara em V de Vingança, a imagem de Guy Fawkes se tornou pandemicamente símbolo da resistência e insatisfação popular frente à alguma problemática.
Mas quem é emblemático homem por trás da máscara que está presente nos protestos pelo mundo?


Guy Fawkes foi membro excepcional e um dos idealizadores da Conspiração da Pólvora ocorrida na Inglaterra em 1605, onde os conspiradores católicos, afim de terminar com a repressão religiosa da monarquia, aspiravam explodir o parlamento inglês durante sua sessão de inauguramento em 5 de novembro, em uma solenidade que contaria com a presença do rei Jaime I, sendo Fawkes o responsável pela detonação dos explosivos.


Fawkes nasceu em Iorque, no dia 13 de abril de 1570, e se converteu ao Catolicismo aos dezesseis anos e por ser simpatizante dos espanhóis católicos, adotou também a versão espanhola de seu nome francês: Guido. Foi um soldado inglês que se envolveu em algumas contravenções e se tornou especialista em explosivos e devido ao seu espírito aventureiro ingressou juntamente com Roberty Casteby frente a revolta secreta.
A operação contava com vários conspiradores anônimos que se correspondiam por cartas, afim de dispensar suspeitas em torno de seus atos ilícitos. Porém um dia antes da data prevista para o ato, um erro comunicacional fez com que uma carta com conteúdo incriminador endereçada a um dos conspiradores  fosse desviada e chegasse ao alcance do rei, o que expôs o movimento e seus anseios. O rei aterrorizado com tamanha audácia e se sentindo afrontado, enviou os soldados para uma inspeção no prédio do parlamento, que encontraram e prenderam Fawkes.



Durante o interrogatório Fawkes que resistia bravamente as torturas intermináveis, se mantinha resoluto e desafiante, o que lhe rendeu uma certa admiração do rei que o descreveu como "um homem de resolução romana". Após uma semana de planejados e requintados atos de tortura, Fawkes enfim cedeu e entregou o nome de oito conspiradores e teve sua confissão assinada.


Fawkes e os demais conspiradores foram condenados a decapitação e exposição pública, mas em um último ato de coragem, Fawkes conseguiu se desvencilhar dos guardas que o conduziam para a execução e pulou em uma escada, quebrando o pescoço e se livrando da humilhação pública. Seu corpo assim como os demais indivíduos envolvidos na conspiração, foi esquartejado e exposto publicamente.


A imagem de Fawkes foi amplamente difundida como a face da traição e instaurou-se na Inglaterra a festividade conhecida como Bonfire Night (Noite das Fogueiras), realizada todo quinto dia do mês de novembro em alusão à data prevista para o ataque, onde são organizados um desfile com bonecos referenciais a Fawkes que são atirados em uma enorme fogueira e acompanhados de uma grandiosa queima de fogos, os participantes entoam uma canção que se tornou símbolo da lembrança desse acontecimento:
"Me lembro, me lembro, do cinco de novembro;
Do atentado e da pólvora, se deve saber;
E não vejo razão, para que tal traição;
Um dia se venha a esquecer."


Apesar de ainda existir a Bonfire Night, a imagem de Fawkes como traidor perdeu sua importância durante o decorrer do tempo, e sua coragem e audácia começaram a povoar o imaginário coletivo, se tornando símbolo de resistência e indignação.
Entre 1982 e 83 o escritor Alan Moore ao escrever uma série de romances gráficos, ilustrados por David Lloyd, referenciou explicitamente Fawkes em seu personagem principal, um  misterioso revolucionário, aclamado pelo povo que tenta destruir o Estado, através de ações diretas e que utiliza em seus atos destemidos, uma máscara com alusão clara ao conspirador inglês. Em 2006, a indústria cinematográfica hollywoodiana adaptou os romances de Moore, em um longa homônimo à obra original, V de Vingança, tornando a face de Fawkes conhecida popularmente e assimilada à bravura. 


A partir de então a máscara traçada com o rosto irônico de Fawkes, é utilizada como símbolo de contrariedade e resistência, sendo aderida em diversas manifestações sociais e representada pelo grupo de hackers Anonymous.


Em um processo raro na história, a posteridade transformou um traidor condenado a morte em um justiceiro que inspira lutas e desperta - ainda que involuntariamente- indagações e anseios de melhorias.


"para explodir todos vocês desgraçados bêbados de Scott, de volta para as montanhas sujas de onde vieram".
resposta proferida por Guy Fawkes quando indagado sobre suas reais intenções de explodir o parlamento.


PROJETO UNBREAKABLE - palavras que ferem

Segundo um estudo divulgado pela ONU (Organização das Nações Unidas) em seu site oficial, em todo o mundo, uma em cada cinco mulheres será vítima ou sofrerá tentativa de estupro durante sua vida, sendo que pesquisas indicam que normalmente os agressores fazem parte do mesmo ciclo social da vítima e ainda de acordo com a Organização Mundial de Saúde cerca de 47% das mulheres afirmam que a primeira relação sexual foi forçada -ainda que psicologicamente- pelo parceiro. Estes fatores podem ser justificados por uma implícita 'cultura do estupro' ainda vigente em pleno século XXI, que fomentada pela secularização da visão de "macho alfa" que impõe seus desejos e sua virilidade sob o frágil sexo oposto e posteriormente sob os homossexuais, no que chamamos formalmente de machismo, e em uma política absurda de segregação e permutação de culpa que apresenta a vítima como eventual responsável pelo crime sofrido por ela, o que gera um enorme embate social e constrangimentos significativos para a mesma .
 Baseado nessa realidade e partindo da proposta de amenizar os traumas sofridos pelo estupro, a fotógrafa Grace Brown iniciou em 2011 o projeto Unbreakable (inquebrável), no qual vítimas de abusos sexuais são fotografadas exibindo em um cartaz uma frase que o algoz deferiu no momento do ato e que permeou a mente do agredido.
O projeto que conta atualmente com mais de 400 depoimentos visuais, se tornou um fenômeno de popularidade e foi aderido como um objeto de defesa e luta contra os crimes sexuais, uma vez que de maneira lirista, confronta o público para uma reflexão em torno do sofrimento gerado por tal ato.

Segundo Monica Moss, uma das vítimas fotografada por Grace, "é uma forma de vítimas tomarem de volta o poder sobre as palavras que foram usadas contra elas".


"Se alguém descobrir eu te matarei". Meu pai.


             "Se alguém descobrir ninguém mais vai querer algo com você". Minha mãe após me levar para abortar o bebê do meu pai.


"Não podemos confrontar seu tio" Meus pais (eu tinha dez anos)


“Seus pais foram jantar, mas não se preocupe – eu vou cuidar de você.”


“Ande logo e arrume essa bagunça” – ele se referindo ao sangue e sêmen no chão.


“Ninguém vai acreditar em você. Sou seu marido – é a sua palavra contra a minha”


“O que temos é tão especial, que as outras pessoas não vão entender.”


"Isso é o que os pais fazem com as suas filhinhas. Você sabe que te amo."


"Isso é bom, não é?" (eu tinha 6 anos)


"Você gosta disso?"


"Não vão acreditar em você. Vão pensar que você é louca. Ninguém nunca mais vai te amar." Meu tio, quando eu tinha 3,4,5,6 e 7 anos


“Você é bonita demais pra ser lésbica.”


“Pare de fingir que você é um ser humano.”


“Você é uma menina má, não eu. Se lembre que você começou tudo isso.”


tumblr oficial do projeto:

MENINA DOS OLHOS - Tiê e a nova face da música brasileira


A termologia MPB surgida em meados do século XX, foi aplicada e definida como gênero musical apenas a partir da segunda metade dos anos de 1960 para distinguir a segunda geração da Bossa Nova.
Tendo como intuito inicial a defesa fiel das raízes da música brasileira e despontando como ícones maiores desse novo gênero os célebres Chico Buarque, Gilberto Gil e Elis Regina, a MPB evoluiu com o tempo e incorporou em seu viés novos ritmos, estilos e personalidades.
Na última década o cenário de música brasileira assistiu um crescente surgimento de novas cantoras que contribuiu de forma decisiva para repaginar ainda mais a noção da MPB, que figura atualmente como um gênero acolhedor e suscetível à mudanças e incorporações de especificidades, uma dessas talentosas cantoras é Tiê.


Dona de uma beleza marcante, um carisma surpreendente e um nome inusitado, Tiê Gasparinetti Biral, despertou ainda jovem sua audácia e coragem que seriam suas características definitivas.
Nascida em uma família de classe média, com apenas 13 anos Tiê ingressou no mundo da moda sem, no entanto, esquecer suas afinidades musicais.
No ano de 2000 a jovem embarcou para uma temporada de um ano em Nova York onde estudou música, expressão corporal e aperfeiçoamento vocal. De volta ao Brasil e decidida a dedicar-se ao cenário musical, ela começou a fazer shows em bares e casas de shows  de pequeno porte.


A meiguice melódica da cantora despertou o interesse crítico que logo a elegeu uma das mais promissoras vozes brasileira, e em 2007 ela gravou em parceria com Dudu Tsuda (tecladista da conceituada banda mineira Pato Fu) um EP com quatro musicas.
No ano de 2009 somando 28 anos e em plena maturidade musical, Tiê lançou seu primeiro disco denominado "Sweet Jardim", que trazia dez faixas autorais que gravadas ao vivo teve grande aceitação do público.
O cd trazia além de músicas autobiográficas como "Passarinho", canções arrebatadoras e emocionantes como "A bailarina e o astronauta" que contava com o acompanhamento fiel de sua intérprete ao violão e parcerias importantes como de Toquinho em sua canção-título.


Além de render uma indicação de revelação do Prêmio Multishow de 2010, Sweet Jardim lhe proporcionou shows por todo Brasil e Nova York, uma turnê pela Europa e foi eleito pelo periódico Folha de São Paulo como um dos 50 discos que ajudaram a formar a identidade musical brasileira nos anos 2000.
Entusiasmada pela receptividade alcançada no primeiro trabalho, a cantora lançou em 2011, seu segundo trabalho que recebeu o nome de A coruja e o coração que trouxe releituras de sucessos, além de parcerias e participações especiais como de Marcelo Jeneci e Tulipa Ruiz.



Considerado uma das mais satisfatórias surpresas do cenário musical brasileiro e com um instrumental mais denso que no primeiro cd, a música principal do aclamado "A coruja e o coração" foi a autoral "A varanda da Liz", que tratou-se de uma homenagem que a cantora fez a sua filha.





Com desenvoltura e charme, Tiê vem conquistando ouvidos e corações enquanto se encaminha para o hall das maiores cantoras de todos os tempos.



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