Ruanda - as lembranças de um passado sombrio


Conhecida como o "país das mil colinas", devido sua característica geográfica (repleta de montanhas e vales), Ruanda foi  classificada em uma reportagem da rede de notícias CNN no ano de 2009, como tendo a história de maior sucesso do continente africano, tendo alcançado estabilidade, crescimento da economia (a renda média triplicou nos últimos dez anos) e integração internacional.
O lançamento de um programa para a redução da pobreza – com medidas como a implementação de um plano de saúde para todos, a melhoria direcionada das oportunidades educacionais como também a promoção da economia privada – já mostrou os primeiros êxitos e reduziu a sua taxa de pobreza em 12 pontos percentuais, para 45% da população.
Nas últimas décadas os ruandeses percorreram um longo caminho de reconciliação e reestruturação, do terror que viveu durante a década de 90, quando o país foi palco de um dos episódios mais sangrentos da história africana: a Guerra Civil da Ruanda.


OS ANTECEDENTES DO GENOCÍDIO

Ruanda foi colonizada no século XIX inicialmente pelos alemães e posteriormente pelos belgas. Baseados em noções equívocas do darwinismo social, os colonizadores belgas proclamaram os tutsis como uma etnia superior aos hutus.
Através de uma série de processos, incluindo várias reformas, o assassinato do rei Mutara III Charles, em 1959 e a fuga do último monarca do clã Nyiginya, o rei Kigeri V, para Uganda, os hutus ganharam mais poder e, na altura da independência, em 1962, os hutus eram os políticos dominantes.
Milhares de tutsis que fugiram do país se refugiaram em Uganda e no Congo, onde receberam treinamento militar e formaram a Frente Patriótica Ruandesa (FPR). Em 1990 a FPR invadiu Ruanda e deu início a guerra civil que assolou o país interruptamente por 3 anos, quando foi estabelecido um tratado de paz, no ano de 1993.
Durante este período porém, as potências internacionais como a China e a França, abasteceram ambos os lados com armas e Ruanda se tornou o terceiro país africano em importação de armas.


A ECLOSÃO DO MASSACRE

Na noite de 6 de abril de 1994, um avião que transportava os então presidentes de Ruanda, Juvenal Habyarimana, e do Burundi, Cyprien Ntaryamira, ambos hutus, foi derrubado e os extremistas hutus imediatamente debitaram a culpa na FPR, que por sua vez defendiam-se afirmando que os próprios hutus haviam planejado o abatimento do avião para reiniciar um conflito, que de fato não havia cessado por completo.
Os extremistas hutus iniciaram um processo cruel de perseguição a minoria tutsi, onde se instaurou a prevalência do ódio e intolerância. Uma lista de opositores foi entregue a milícia hutu, que era responsável pela eliminação dos mesmos, vizinhos e familiares se rebelaram uns contra os outros e até mesmo maridos matavam suas esposas tutsi, temendo uma represália por parte dos hutus. Como o grupo étnico dos indivíduos eram demonstrados na carteira de identidade, no auge do devaneio hutu foram montados bloqueios nas estradas, para impedir a fuga dos tutsis.
Apesar das armas de poderio bélico adquirido anteriormente, os milicianos abatiam seus alvos preferencialmente com facões, apresentando portanto um maior requinte de crueldade.
Apoiada pelo exército da Uganda, a FPR gradualmente foi conquistando território e libertando do terror os tutsis. No dia 04 de julho, exatos três meses após o início do massacre hutu, os soldados da FPR conseguiram o controle da capital Kigali. Milhares de hutus acuados e temerosos da redarguição por parte dos tutsis se refugiaram no Congo, onde milhares de pessoas morreram de cólera, enquanto grupos de ajuda humanitária foram acusados de deixar muito da sua estrutura de assistência cair nas mãos das milícias hutus.

        
AJUDA INTERNACIONAL

Tanto a Bélgica quanto a ONU tinham forças de segurança em Ruanda, mas não foi dado o poder a nenhuma delas de intervenção no conflito, sendo que os belgas e maior parte do contingente da ONU se retiraram do país depois que dez soldados belgas foram mortos. Os EUA estavam determinados a não se envolver em outro conflito africano, depois que soldados norte-americanos foram mortos na Somália.
A França que era aliada dos hutus, enviaram soldados para criar uma zona teoricamente segura, mas foram acusados de não interferirem a fim de colocar fim ao genocídio.


O conflito que durou cem dias, produziu cerca de 800 mil óbitos, muitas mulheres tutsis foram mantidas como escravas sexuais e dessas violações, a ONU estima que tenham nascido entre 250 mil à 500 mil crianças, das quais muitas foram assassinadas.



Entrevista com o jornalista Alexander Kudascheff, de 62 anos (editor-chefe da DW) que cobriu o genocídio em Ruanda:

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