A LEMBRANÇA - Juan Ramón Jiménez


Não te afastes, lembranças, não te afastes!
Rosto, não te desfaças, assim,
como na morte!
Continuai a olhar-me, olhos enormes, fixos,
como um instante me olhastes!
Lábios, sorri-me,
como me sorristes um instante!

Ai, fronte minha, aperta-te;
não deixes que se espalhe
sua forma fora do seu vaso!
Oprime o seu sorriso e o seu olhar,
até serem a minha vida interna!

Embora me esqueça de mim mesmo;
embora o meu rosto, de tanto o sentir,
tome a forma do seu rosto;
embora eu seja ela
e nela se perca a minha estrutura!

Oh lembrança, sê eu!
Tu - ela - sê minha lembrança inteira e única, para sempre;
Lembrança que me sorria no nada;
lembrança, viva como a vida,
feita eterna...
apagando-me... apagando-me!!!!

 de: Piedra e Cielo

P.S: Juan Ramón Jiménez é um escritor espanhol, que recebeu o prêmio Nobel de Literatura em 1956 e morreu no dia 29 de MAIO de 1958.

Pesquisar