PERSONAGEM - Cecília Meireles


Teu nome é quase indiferente
e nem teu rosto mais me inquieta
A arte de amar é exatamente
a de ser poeta.

Para pensar em ti me basta

o próprio amor que por ti sinto:
és a ideia serena e casta

nutrida do enigma do instinto.

O lugar da tua presença
é um deserto, entre variedades
mas, nesse deserto é que pensa
o olhar de suas saudades.

Meus sonhos viajam rumos tristes
e, no próprio universo,
tu, sem forma e sem nome existes
silêncio, obscuro e disperso.

Teu corpo, e teu rosto, teu nome
teu coração, tua existência,
tudo - o espaço evita e consome...
eu só conheço a sua ausência.
Eu só conheço o que não vejo.

E nesse abismo do meu sonho,
alheia à todo outro desejo,
me decomponho e recomponho.

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