AS BRUXAS DE SALÉM - a intolerância sob à égide do moralismo e fanatismo religioso


A Idade Média foi marcada pela busca desenfreada da soberania da Igreja, e como sabemos afim de impor sua autoridade indiscutível a entidade não poupou esforços, muitas vezes recorrendo à métodos nada convencionais.
Dentre essas práticas autoritárias, destaca-se a intolerância em relação a qualquer outra manifestação religiosa que se opunha aos costumes atribuídos e cultivados pela Igreja.
No início do século XIV, os países da península Ibérica começaram a patrocinar explorações além das fronteiras da Europa, o que proporcionou o descobrimento de lugares até então desconhecidos e a interação com outros povos e culturas totalmente diversas. Já no fim da primeira metade do século XIV, a Europa foi assolada por uma pandemia de peste bubônica (peste negra). Aflitos pelo desconhecimento das causas desse mal,  aflorou no imaginário coletivo a ideia de que a peste tinha na verdade fatores místicos, dando início à uma série de perseguições que ultrapassaram os séculos e permaneceu ainda durante a Idade Moderna.
Alimentados pelo fanatismo religioso, a crença em bruxaria generalizou-se de tal forma que, no fim do século XV, a igreja cedeu à pressão do medo e paranoia populista, iniciando em 1484 uma série de julgamentos pela prática de bruxaria, sendo também publicado em 1486 o Malleus Maleficarum, o mais popular manual de caçadores de bruxas.
Durante o episódio histórico conhecido como Caça as bruxas (que começou no século XV e atingiu seu apogeu nos séculos XVI e XVII),  muitos foram os absurdos praticados. Na Europa as arbitrariedades cometidas com a Família Pappenheimer, figura dentre o mais cruel fato desse período.
A intolerância e o misticismo disseminado violaram o território europeu e alcançou o Novo mundo, onde o caso mais notório e pungente foi o das Bruxas de Salém, onde atos inadmissíveis foram cometidos em nome de uma transgressão jamais comprovada.


A vila de Salém no estado de Massachusetts, era um lugar triste e sombrio no fim do inverno de 1692. Entre as imensas florestas e o mar vasto e calmo, parecia que o mundo estava se fechando para os colonos puritanos que habitavam a área. Duas tribos de nativos norte-americanos lutavam entre si em um lugar próximo. A varíola tinha começado a afetar a população de cerca de 500 pessoas.
"Em 1692, era fácil acreditar que o diabo estava muito perto de Salém. Mortes repentinas e violentas ocupavam as mentes das pessoas", escreveu o historiador Douglas Linder.
A estrutura social também estava sob pressão. Três novas gerações haviam nascido na vila desde a chegada dos colonos originais, cada uma delas aparentemente mais afastada da devoção séria e religiosa ao código bíblico que havia guiado os puritanos da Europa para a imensidão norte-americana. O plano original dos puritanos de criar um novo Jardim do Éden parecia estar dando errado.
Samuel Parris, ministro anglicano, havia se mudado para a aldeia de Salém em 1689, com sua família e dois escravos, Tituba e Jhon, um nativo índio e havia se tornado pastor da vila.
Nesse período a pequena Elizabeth Parris, filha do novo pastor Parris e sua prima Abigail Willams começaram a demonstrar um comportamento estranho; elas apresentavam convulsões e histeria incontroláveis, enquanto gritavam que sua pele queimava.


Levadas ao médico local William Griggs, que pressionado pelo pastor e sem a mínima noção do que seria a causa física da doença, aponta a bruxaria como fator responsável pelo estado das meninas.
Indagadas, as garotas culparam a escrava barbadiana Tituba de praticar rituais místicos e de narrar contos demoníacos.
Praticamente no mesmo instante, a menina Ann Putnam desenvolve os mesmos sintomas de Beth e Abigail e seus pais culpam sua vizinha, a viúva Sarah Osborn de estar em estado de possessão e conduta condizente com bruxaria.
A partir desse momento, outras crianças foram acometidas pelo mesmo mal e as denúncias de bruxaria cresciam descontroladamente.



Em 27 de maio o recém chegado governador, Sir William Phips, fundou um Tribunal especial de Oyer e Terminer composto de sete juízes para julgamento dos casos de bruxaria.
Compuseram o Tribunal: William Stoughton, Nathaniel Saltonstall, Bartholomew Gedney, Peter Sergeant, Samuel Sewall, Wait Still Winthrop, John Richards, John Hathorne, and Jonathan Corwin.
Uma equipe foi formada e encarregada de examinar os indivíduos denunciados; sendo que dentre os métodos de investigação utilizados estava métodos brutais de tortura.


Diante desses métodos, muitos acusados confessaram culpados para se livrar do sofrimento. A escrava Tituba, confessou sua culpa  e inclusive denunciando outras pessoas teoricamente possuídas. Ela nunca chegou a ser julgada, mas foi confiscada de Parris e vendida depois.
Em 2 de junho Bridget Bishop foi o primeiro a ser considerado culpado e condenado à morte, sendo enforcado 8 dias depois.




Dentre os acusados e condenados à forca estão a mendiga semi-louca Sarah Good, a beata Martha Corey, enfermeira Rebecca Nurse, Susannah Martin, Elizabeth Howe, Sarah Wilds, George Burroughs, Martha Carrier, John Willard, George Jacobs, Sr.John Proctor, Mary Eastey, Ann Pudeator, Alice Parker, Mary Parker, Wilmott Redd, Margaret Scott e Samuel Wardwell.
Alguns acusados morreram ainda na cadeia como Sarah Osborn, Roger Toothaker, Lyndia Dustin e Ann Foster.
O acusado Giles Corey (marido de Martha Corey) foi vítima da mais cruel penalidade. Giles alegou inocência da acusação de feitiçaria, mas subseqüentemente recusou levantar-se diante do tribunal; esta recusa significou que ele não podia ser julgado legalmente. Porém, os examinadores dele escolheram sujeitá-lo a interrogatório mediante tortura. Replicando um antigo método medieval, foi colocado pesadas pedras em cima de seu corpo. Ele sobreviveu a esta brutal tortura por cerca de três dias e morreu.


O tribunal foi dissolvido pelo Governador Philips em 29 de outubro, depois de executadas 20 pessoas e mais de 200 presos. Os magistrados de Salem que tinham começado os processos, admitiram os erros entre lágrima e lamentações.
E assim teve fim ao período de horror na pacata vila.



Dentre as explicações para o surto das garotas, estão um possível envenenamento por grãos ou efeitos colaterais da epidemia de varíola que assolou a vila.
Já a acusação dos envolvidos em bruxaria, deve-se segundo pesquisadores à um amplo conflito de interesses; os membros puritanos da vila acusaram pessoas que por algum motivo feriam aos costumes ou regras da sociedade religiosa, ou ainda apenas pessoas que não se enquadravam no quadro social vigente, um exemplo disso é a mendiga Sarah Good.
Além de ser viúva Sarah Osborn, sofreu desconfianças de adultério e travava uma batalha judicial pela posse da terra que herdou de seu primeiro marido, contra seus vizinhos e pais de Ann Putnam.
Já Giles Corey vivia seu quarto casamento com Martha, o que implicitamente (por ocuparem um lugar de prestígio na sociedade) era mal visto pelos demais.
A caça as bruxas de Salém, foi talvez um dos períodos mais brutais da história dos Estados Unidos, em que a ignorância vitimou pessoas inocentes e a natureza rude do ser humano alcançou níveis extremos.





Sobre a família européia acusada de bruxaria e as condições para acusar indivíduos de santidade ou de demonismo.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Fam%C3%ADlia_Pappenheimer
http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=1008

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